A Polícia Civil de São Paulo concluiu o inquérito que investiga irregularidades no contrato de patrocínio do Corinthians com a casa de apostas Vai de Bet. O documento, enviado ao Ministério Público nesta segunda-feira (23), aponta uma relação da gestão do ex-presidente Augusto Melo com o crime organizado, além de desvios de comissões para pagamento de dívidas de campanha.
O inquérito detalha que doações para as campanhas eleitorais de Augusto Melo em 2020 e 2023 eram tratadas como “dívidas”, incluindo pagamentos a empresários de jogadores, influenciadores, e até um agiota da zona leste de São Paulo. Esses pagamentos eram supostamente efetuados por meio de desvios para empresas de fachada. O documento revela, inclusive, ameaças de morte recebidas por Augusto Melo devido à inadimplência com o agiota.
Um dos doadores citados é Bruno Alexssander, conhecido como ‘Buzeira’, influenciador com mais de 737 mil seguidores, que ganhou notoriedade por sorteios de artigos de luxo.
Relação com o Crime Organizado
A empresa UJ Football Talent A Victory é citada como receptora de pelo menos R$ 870 mil dos desvios. O inquérito a aponta como responsável por lavar dinheiro do crime organizado, conforme investigações do Ministério Público de São Paulo. Antonio Vinicius Gritzbach, apelidado de “delator do PCC” e executado em novembro de 2024 no aeroporto de Guarulhos, havia delatado o esquema. As autoridades concluem que “os valores que saíram dos cofres do Corinthians chegaram à UJ Football porque assim havia sido previamente ajustado, um pacto de financiamento, recompensa e silêncio.”
Além disso, o inquérito aponta ligações diretas e indiretas da gestão de Augusto Melo com o crime organizado, citando nomes como Haroldo Dantas (presidente do Conselho Fiscal do Conselho Deliberativo, com parceria com a UJ Football), Marcos Bocatto (ex-superintendente de novos negócios do Corinthians e presidente de honra do Água Santa, citado como “comandado pelo PCC”), o influenciador Buzeira, e os ex-diretores Claudinei Alves e Valmir Costa.
Detalhes dos Repasses e Indiciamentos
O delegado Tiago Fernando Correia indica que a intenção inicial era repassar 7% de comissão do valor total do patrocínio, em parcelas de R$ 700 mil, totalizando R$ 25,2 milhões. Além de Augusto Melo, Marcelo Mariano e Sérgio Moura, ex-dirigentes do clube, foram indiciados por lavagem de dinheiro, furto qualificado e associação criminosa.
Yun Ki Lee, ex-diretor jurídico do Corinthians, foi indiciado por omissão imprópria. Segundo o inquérito, mesmo ciente de inconsistências no CNAE da empresa intermediária REDE SOCIAL – que não condizia com a atividade e possuía baixo capital social –, ele não tomou providências nem alertou sobre as possíveis irregularidades, permitindo um pagamento de R$ 25 milhões que saía dos cofres do Corinthians.