Em entrevista ao Vatican News nesta sexta-feira, o cardeal Dom Leonardo Ulrich Steiner, arcebispo de Manaus, falou sobre o Papa Francisco, o Conclave e a Amazônia, e o seu sonho para ela.
O Conclave “foi uma experiência belíssima e profundamente eclesial”, recorda Dom Leonardo. “Gosto sempre de lembrar que entramos na Capela Sistina cantando a Ladainha de Todos os Santos. Não estávamos sozinhos. Ali estava reunida toda a Igreja, a Igreja da comunhão dos santos. Logo em seguida, invocamos o Espírito Santo com o Veni Creator Spiritus. Estávamos ali, não para escolher apenas um homem, mas para discernir juntos quem seria o Sucessor de Pedro.”
O cardeal também destacou o clima espiritual que envolveu cada momento do Conclave: “Jamais esquecerei aquele instante. Um silêncio profundo, uma liturgia intensa, uma harmonia que superava qualquer diferença. Éramos muitos, mas ali, éramos um só coração.”
Amazônia: o olhar esperançoso de um Papa que conhece os pobres
Questionado sobre as expectativas para a Amazônia no novo pontificado, Dom Leonardo foi enfático:
“Quem vive entre os pobres não é mais o mesmo. Os pobres nos ensinam, alargam o nosso coração. E o Papa Francisco veio dos pobres. Ele andava a cavalo para atender as comunidades mais simples. Essa experiência concreta com os pequenos do Reino marca profundamente sua visão pastoral — e, certamente, vai fortalecer a caminhada da Amazônia.”
O arcebispo vê com esperança a continuidade do caminho sinodal, tão caro ao Papa Francisco:
“Francisco já expressou seu compromisso com uma Igreja sinodal, missionária, com um olhar profundamente social e evangelizador. A Amazônia — com toda a sua riqueza espiritual, cultural e humana — encontrará nele um pastor próximo, sensível e profético.”
Um sonho que nasce do coração de Dom Leonardo
Ao ser questionado sobre seu sonho para a Amazônia, Dom Leonardo não hesitou em falar com ternura e convicção:
“O nosso sonho é aquele que compartilhamos há mais de 50 anos: ser uma Igreja profundamente encarnada, comprometida com a realidade do povo e alegre em anunciar o Reino de Deus. As nossas assembleias no Regional Norte 1 são muito ricas: reunimos bispos, padres, diáconos, leigos, leigas, representantes indígenas. Todos sonham essa mesma Igreja viva e presente.”
“E temos um desejo profundo: que todas as nossas comunidades possam celebrar mais vezes a Eucaristia. Esse sonho eu carrego desde que fui nomeado bispo pela primeira vez, para São Félix do Araguaia. Na bula, constava a missão de levar a Eucaristia a todas as comunidades. Isso me assustou: éramos cinco padres para 150 mil km².”
O cardeal recorda um texto de São Jerônimo que o confortou: a Palavra também é Corpo e Sangue do Senhor.
“Muitas comunidades vivem da Palavra, mas — como diz São Tomás — é pela Palavra que o Senhor se faz Pão. E esse pão, as comunidades desejam. Elas têm direito ao Pão descido do céu.”
Finaliza com um apelo de reflexão da Igreja:
“Rezamos muito pelas vocações. Trabalhamos para isso. Mas também chegará o momento em que a Igreja precisará repensar a questão dos ministérios. Para que o Pão da Vida alcance todos os que o esperam.”