
Brasília – Em um depoimento tenso e aguardado nesta terça-feira (10/6) ao ministro Alexandre de Moraes, no Supremo Tribunal Federal (STF), o ex-presidente Jair Bolsonaro negou veementemente ter planejado um golpe para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva após as eleições de 2022. No entanto, admitiu ter discutido “possibilidades” de reverter o resultado do pleito.
O interrogatório de Bolsonaro, que durou horas, marcou seu primeiro encontro direto com Moraes desde que se tornou réu em processos que investigam tentativas de ruptura democrática. Além do ex-presidente, outros sete aliados também prestaram depoimento, incluindo generais e um almirante da reserva.
Principais pontos do depoimento de Bolsonaro
- Negação de golpe: Bolsonaro foi categórico ao afirmar que “nunca se falou em golpe” em seu governo, classificando a ideia de “abominável”.
- Discussão de alternativas: O ex-presidente reconheceu que chegou a discutir “alternativas na Constituição” para reverter o resultado eleitoral. Segundo ele, essa busca por soluções ocorreu após o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aplicar uma multa de R$ 22 milhões ao Partido Liberal (PL), sua legenda, por suposta fraude na eleição, sem apresentar provas. Bolsonaro, contudo, alegou que as alternativas teriam sido descartadas por não estarem em conformidade com a Constituição.
- Pedido de desculpas a Moraes: Em um momento de destaque, Bolsonaro pediu desculpas a Alexandre de Moraes por ter insinuado que o ministro e outros membros do STF teriam recebido milhões de dólares ilegalmente durante o processo eleitoral de 2022. Ele justificou a fala como um “desabafo” e uma “retórica”, admitindo não ter indícios para tal acusação.
- Atos de 8 de janeiro: Sobre os ataques às sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023, Bolsonaro negou qualquer planejamento ou colaboração com uma trama golpista. “Aquilo não é golpe”, disse, referindo-se aos atos como “baderna” e afirmando que as pessoas que “realmente fizeram” os atos teriam ido embora, restando apenas os acampados.
- Críticas ao sistema eleitoral: O ex-presidente afirmou que nunca fez “ataques” ao sistema eleitoral, mas sim “críticas”, alegando que a desconfiança em relação às urnas não começou com ele, mas sim com figuras como Brizola nos anos 90 e Flávio Dino.
- “Carta fora do baralho”: Ao comentar a necessidade de restabelecer a confiança no sistema eleitoral, Bolsonaro declarou: “Eu sou carta fora do baralho… tem que tomar uma providência pra restabelecer a confiança da população no sistema eleitoral nosso”.
- Defesa do voto impresso: Bolsonaro elogiou o sistema de votação eletrônico com voto impresso utilizado em países como Paraguai e Venezuela, sugerindo que um modelo similar no Brasil poderia evitar situações como a atual.
Tanto Bolsonaro quanto os demais réus negam as acusações, com o ex-presidente alegando ser vítima de perseguição política.
Depoimentos de outros aliados
- General Augusto Heleno: O ex-ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) recusou-se a responder às perguntas de Moraes. Heleno negou ter conhecimento do plano “Punhal Verde Amarelo”, que, segundo a acusação, envolveria a execução de Lula e Moraes. Ele também afirmou desconhecer a existência de um “gabinete institucional de gestão da crise” que seria chefiado por ele.
- Anderson Torres: O ex-ministro da Justiça admitiu uma falha “grave” no protocolo de segurança do 8 de janeiro e ressaltou que a principal responsabilidade pela segurança da Esplanada era da Polícia Militar do Distrito Federal. Torres negou ter indícios de fraude nas urnas, apesar de declarações anteriores em reuniões ministeriais.
- Almirante Almir Garnier: O ex-comandante da Marinha defendeu que agiu dentro de seu papel institucional e que o presidente tinha o direito de se expressar sobre temas de sua competência. Garnier afirmou que as Forças Armadas não encontraram fraudes nas urnas que tivessem chegado ao seu conhecimento e classificou como “surreal” a informação de que o comandante do Exército teria ameaçado prender Bolsonaro.
- Alexandre Ramagem: O deputado federal e ex-diretor-geral da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) negou a existência de uma “Abin paralela” para monitorar autoridades e refutou a disseminação de informações falsas sobre fraudes nas urnas. Ele explicou que um vídeo enviado a Bolsonaro era uma gravação oficial de teste de segurança da urna pela Justiça Eleitoral.
- Mauro Cid: O ex-ajudante de ordens de Bolsonaro e delator confirmou ao STF que o ex-presidente discutiu e revisou minutas de documentos para decretar Estado de Sítio ou Estado de Defesa, com o objetivo de impedir a posse de Lula. No entanto, Cid disse desconhecer o envolvimento de Bolsonaro em ações preparatórias para os atos de 8 de janeiro.
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