O sentimento de força move a enfermeira Renata Afonso, de 34 anos, em uma rotina exaustiva de trabalho. A profissional trabalha há mais de uma década na função e lida com a pressão de cuidar de pacientes na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital 28 de Agosto, uma das unidades de saúde referência no tratamento da Covid-19 no estado do Amazonas.
Renata afirma que a vocação para cuidar de pessoas sempre existiu e considera o trabalho uma “realização pessoal”, apesar dos cuidados terem triplicado para evitar contaminação da filha de 6 anos e da mãe idosa em casa. Segundo ela, nenhum profissional de saúde é inabalável e o medo está presente a todo momento. “Tenho medo de levar a contaminação para casa. Tenho muito medo de ter sido falha do cuidado de higiene, de paramentação, de ter tido algum momento que eu tive contato com o vírus e de repente levar esse vírus para casa”.
Ser mulher e atuar na linha de frente, na visão da enfermeira, a fez amadurecer como mulher e como profissional, enxergando cada dia como uma “vitória”. A saudade de ter uma vida normal, mais tranquila, incentiva Renata a continuar trabalhando pelos pacientes. Ser mulher na pandemia, segundo ela, “é para os fortes”:
“Não é fácil e não tem sido. A mulher ganhou um valor na sociedade, no ambiente profissional diferenciado. A gente vem dar o nosso melhor como profissional e volta para casa para dar o melhor como mulher, mãe, filha e isso faz a mulher ser mais fortalecida com certeza, a enfrentar o mundo de uma maneira mais vigorosa”.
Vigor – O vigor é uma qualidade presente na coordenadora do Programa Estadual de Imunização da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS), Izabel Nascimento. Aos 72 anos, Izabel tem a missão de orientar uma das operações mais complexas no combate à pandemia do coronavírus, que é a vacinação. Experiência não falta, já que a coordenadora atuou em outras grandes campanhas de imunização desde a década de 80, como a paralisia infantil e o sarampo. A Covid-19 “assusta”, segundo ela, no entanto, é possível vencer com a união de todos. “A população tem que entender que, mesmo tomando vacina, você tem que continuar com todos os cuidados. São coisas que a população tem que ajudar e se não tomar consciência vamos ficar nisso por muito tempo”, ponderou.
Izabel relembra outra grande parceira que atuou pelo povo amazonense, a ex-diretora da FVS, Rosemary Pinto, vítima de complicações da Covid-19. Considerada uma amiga por Izabel, a coordenadora afirma que “perdeu uma irmã”, mas que a força de Rose motivou outras mulheres a lutarem contra a doença. “Tenho certeza que ela onde quer que esteja, está sim zelando por nós, porque de certeza ela é uma luz. Continua sendo a luz que estava aqui no nosso estado e muito contribuiu. Ela se foi, mas permanece entre nós”.
Amor – O amor de Raimunda Lima, carinhosamente chamada de “Ray” pelos alunos da Escola Estadual Irmã Gabriele, no bairro Puraquequara, zona oeste, vai além dos números e da Matemática. Professora há nove anos, a trajetória de Ray muda conforme o tempo passa, saindo da função de auxiliar de serviços gerais para professora de adolescentes de 6º e 7º ano da rede pública.
Ray nunca imaginou ser a protagonista em sala de aula, e desde quando descobriu a vocação, tem se dedicado ao máximo para levar conhecimento aos pequenos. Em tempos de pandemia e mudanças na modalidade de ensino, Ray afirma sentir falta do contato com os alunos e do “olho no olho”.
“Eles representam muitas coisas. Para mim, como profissional,
Firmeza – A cabo da Polícia Militar, Andreza Medeiros, sequer pensava em viver uma pandemia. “A gente imagina que vai trocar tiros, fazer apreensão de pessoas, produtos, ilícitos, mas combater o que é invisível, nunca imaginei passar por uma pandemia na vida”, disse ela.
Assim como os profissionais da saúde, a segurança pública manteve as atividades, isso para garantir o cumprimento da lei e dos decretos do Governo do Estado. A mudança na rotina demandou de Andreza mais tempo no trabalho e, consequentemente, menos tempo em casa com os filhos. Andreza afirma que, na pandemia, o inimigo é invisível.
“É muito difícil combater o que é invisível. Porque esse vírus veio para mudar as nossas vidas. Em todos os setores. A polícia, querendo ou não, somos linha de frente. Tanto é que vários colegas já tombaram, como a gente fala. Isso não é fácil. Ficamos amedrontados, sentimos uma sensação de impotência, mas é pedir a Deus que não aconteça com a gente. Que nós não levemos a doença para dentro de casa”.
FOTOS: Arthur Castro / Secom