Após tentativa de assalto, PM mata por engano homem que saía do trabalho, diz Polícia Civil

Guilherme Souza Dias, que foi morto por PM após sair do trabalho na Zona Sul de SP — Foto: Reprodução/redes sociais

Um policial militar foi preso em flagrante na noite de sexta-feira, 4 de julho de 2025, após matar por engano Guilherme Dias Santos Ferreira, de 26 anos, com um tiro na cabeça. O incidente ocorreu em Parelheiros, na Zona Sul de São Paulo, quando Guilherme saía do trabalho. O PM teria confundido a vítima com um criminoso.

De acordo com a Polícia Civil, há fortes indícios de que Guilherme não tinha envolvimento com a tentativa de assalto que motivou a reação do policial.

Detalhes da ocorrência

Conforme o boletim de ocorrência (BO) registrado pelo Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP), o policial afirmou que pilotava sua motocicleta pela Estrada Ecoturística de Parelheiros quando foi abordado por suspeitos armados que tentaram roubar sua moto. Em resposta, o PM efetuou disparos. Durante a confusão, Guilherme foi baleado e morreu no local.

Uma mulher de 26 anos que passava pelo local também foi atingida por um disparo e socorrida. O boletim de ocorrência não detalha o estado de saúde dela.

O BO também informa que três motocicletas foram apreendidas e outro homem, que trabalhava na mesma empresa que Guilherme e também saía do trabalho, foi detido. Ele foi liberado após prestar depoimento, pois nada de ilícito foi encontrado com ele e a vítima da tentativa de assalto não o reconheceu como participante do roubo.

Confirmação da inocência da vítima

Testemunhas e colegas de trabalho afirmam que Guilherme saiu do trabalho às 22h28, aproximadamente sete minutos antes do crime, ocorrido às 22h35. Ele teria sido atingido enquanto corria em direção ao ponto de ônibus. Um funcionário da empresa apresentou imagens do registro do ponto eletrônico que confirmam o horário de saída de Guilherme.

O próprio Guilherme havia publicado uma foto do relógio de ponto em seu status do WhatsApp ao sair do trabalho.

Um amigo de Guilherme, que preferiu não se identificar, contou à imprensa que a vítima havia se casado recentemente, fez aniversário na semana passada e era “um rapaz incrível, inteligente e cheio de sonhos”.

Segundo o boletim de ocorrência, foram encontrados com Guilherme sua carteira, celular, remédios, um livro, marmita, talheres e itens de higiene. Nenhuma arma de fogo foi encontrada. Na versão atualizada do BO, após amigos de Guilherme entrarem em contato com a Polícia Civil e apresentarem indícios de que ele estava saindo do trabalho no momento da ocorrência, ele deixou de ser classificado como “envolvido” e passou a ser considerado “vítima”.

A Polícia Civil afirma, com base nas provas iniciais, que “Guilherme não seria um dos criminosos e se aproximava com relativa pressa para se dirigir ao ponto de ônibus, situado a cerca de 50 metros do local onde foi atingido”.

Indiciamento e posição da Secretaria de Segurança Pública

O boletim de ocorrência informa que o PM “provavelmente acreditou que se tratava de um dos criminosos que o haviam abordado” e que o policial deve ter agido por erro de “percepção”, o que afasta a hipótese de legítima defesa. Por isso, ele foi autuado por homicídio culposo, crime em que não há intenção de matar. A arma usada, uma pistola Glock calibre .40 pertencente à Polícia Militar, foi apreendida.

A fiança foi definida em R$ 6.500 e paga por um representante do policial, que foi solto após o registro da ocorrência. Segundo a Polícia Militar, ele responderá pelo crime em liberdade. A investigação continua com o apoio da perícia técnica, que analisará os estojos de munição recolhidos no local e demais evidências.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) tratou Guilherme como um suspeito da tentativa de assalto. Leia a íntegra da nota da SSP abaixo:

“Um homem de 26 anos foi baleado após tentar roubar, com outros comparsas, a motocicleta de um policial militar de 35 anos na noite de sexta-feira (4), na Estrada Ecoturística de Parelheiros, zona sul da capital. De acordo com o boletim de ocorrência, o PM retornava para casa quando foi cercado por cerca de cinco motociclistas armados – ele interveio e efetuou disparos. Durante a ação, uma mulher de 26 anos que passava pelo local também foi atingida por um disparo e socorrida por terceiros. Pouco antes, um motorista de 25 anos também havia sido abordado pelo grupo, mas conseguiu escapar ao perceber a aproximação do policial. Nas diligências, a PM deteve um homem de 21 anos nas proximidades. Nada de ilícito foi encontrado com ele e a vítima não o reconheceu como participante do roubo. Ele foi ouvido e liberado. O caso foi registrado como tentativa de roubo no 101º Distrito Policial (Jardim Imbuias) e o Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) foi acionado.”

Foto: Arquivo pessoal: Status publicado por Guilherme Souza Dias em seu WhatsApp minutos antes de ser morto por PM

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