Tragédias no Futebol: ações de Liverpool e Flamengo revelam contrastes na gestão da dor – Por Ronaldo Aleixo

O mundo do futebol testemunhou recentemente duas tragédias que testaram a humanidade e a capacidade de resposta de grandes clubes. De um lado, a agilidade e empatia do Liverpool na perda de um de seus astros, Diogo Jota. Do outro, o longo e doloroso processo de litígio que marcou a resposta do Flamengo após o incêndio no Ninho do Urubu. A comparação entre as duas abordagens revela contrastes significativos na forma como instituições lidam com a dor e a responsabilidade.

Liverpool: agilidade e suporte incondicional após perda de Diogo Jota

Na última quinta-feira, o futebol lamentou a trágica morte de Diogo Jota, aos 28 anos, em um acidente de carro. O atacante português, peça fundamental nas recentes conquistas do Liverpool, havia se casado há apenas duas semanas. A dor da família de Jota — sua viúva, Rute Cardoso, e os três filhos do casal — foi rapidamente amparada pelo clube inglês.

Segundo o jornal português Record, o Liverpool agiu com notável sensibilidade e proatividade. O clube não apenas se comprometeu a pagar integralmente os dois anos restantes do contrato de Jota, repassando todos os valores à família, mas também incluirá os bônus previstos no vínculo. Essa atitude demonstra uma preocupação que transcende o campo, oferecendo um suporte financeiro imediato e incondicional em um momento de profunda vulnerabilidade. É um gesto que ressalta a responsabilidade social e a empatia de uma instituição para com aqueles que contribuíram para sua história.

Flamengo: O árduo caminho da justiça após a tragédia do ninho do Urubu

Em contrapartida, a tragédia do Ninho do Urubu, ocorrida em 8 de fevereiro de 2019, permanece como uma ferida aberta. O incêndio em um alojamento improvisado para jovens atletas das categorias de base do Flamengo ceifou a vida de 10 adolescentes e feriu outros três. Investigações apontaram falhas graves, como a ausência de licença de funcionamento para o alojamento e alertas ignorados sobre problemas na instalação elétrica.

A resposta do Flamengo às famílias das vítimas foi marcada por um longo e complexo processo de negociação judicial. Embora o clube tenha anunciado, em fevereiro de 2025, ter chegado a acordos com todas as 10 famílias das vítimas fatais – sendo a de Christian Esmério a última a ser indenizada –, a jornada até esses acordos foi desgastante. Diferente da ação imediata do Liverpool, o Flamengo enfrentou críticas pela demora e pela judicialização das indenizações, o que prolongou a dor e o sofrimento dos familiares por anos.

Além das indenizações às famílias dos atletas, o Flamengo também foi recentemente condenado a indenizar e reintegrar um ex-segurança que atuou no resgate e sofreu traumas psicológicos, evidenciando outras camadas de responsabilidade decorrentes da tragédia. A lentidão do processo criminal, que ainda não resultou na punição dos responsáveis pelo incêndio, agrava a percepção de uma gestão da crise que, embora tenha chegado a acordos financeiros, não conseguiu evitar a dor prolongada e a busca por justiça.

Reflexões sobre responsabilidade e humanidade no esporte

A comparação entre as duas situações revela diferentes abordagens na gestão de crises e na responsabilidade para com aqueles que fazem parte do universo do clube. Enquanto o Liverpool optou por uma ação rápida e abrangente, visando aliviar o fardo financeiro e emocional de uma família enlutada, o Flamengo se viu envolvido em um processo prolongado e litigioso, que gerou desgaste e questionamentos sobre a empatia da instituição.

Ambos os casos, à sua maneira, colocam em pauta o papel dos clubes de futebol como grandes empresas e, ao mesmo tempo, como entidades com um profundo impacto social. A forma como lidam com a vida e a perda de seus atletas – sejam eles estrelas consagradas ou jovens promessas – reflete não apenas sua saúde financeira, mas também a essência de seus valores e sua humanidade no esporte.

Sobre o Autor:

Ronaldo Aleixo – É jornalista (DRT 96423/SP), filiado à Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e ao Sindicato dos Jornalistas de Roraima (Sinjoper). Possui formação como Tecnólogo em Marketing pela Uninter-AM e é pós-graduado em Jornalismo Digital, Jornalismo Investigativo, Docência do Ensino Superior, Gestão de Mídia Social e MBA em Ciência Política: Relação Institucional e Governamental, todas pela Uninter-PR. Cursando Direito Digital na PUCRS.

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