Desmatamento na Amazônia acelera em 2025; BR-319 segue em impasse com pressão de Senadores – Por Ronaldo Aleixo

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Omar Aziz e Marina Silva discutiram em audiência (Foto: Geraldo Magela/Agência Senado)

CURITIBA, PR – Os dados mais recentes sobre o desmatamento na Amazônia em 2025 acendem um alerta crítico, revelando um cenário preocupante de aumento da destruição e recordes na degradação florestal. Em maio de 2025, a devastação na floresta alcançou 960 km², um aumento alarmante de 92% em comparação com o mesmo mês do ano anterior, marcando o segundo pior resultado da série histórica para maio.

Os estados de Mato Grosso (627 km²), Pará (145 km²) e Amazonas (142 km²) foram os mais atingidos neste período. O desmatamento acumulado entre agosto de 2024 e maio de 2025 também aponta para um crescimento de 9%. Embora fevereiro de 2025 tenha registrado o menor índice de alertas de desmatamento da série histórica para o mês, a tendência geral do ano é de alta, com janeiro de 2025 começando com um aumento de 68% na derrubada.

Degradação recorde e o controverso papel da BR-319

Além do corte raso, a degradação florestal atingiu patamares sem precedentes. No ciclo de desmatamento de 2025, foram registrados 33.807 km² de área degradada, um salto de 482% em relação ao período anterior. Pará e Maranhão concentram 89% desse impacto, impulsionado principalmente por queimadas e extração madeireira ilegal. As queimadas, aliás, tornaram-se um fator crítico, respondendo por 51% do desmatamento em maio de 2025, com os focos de incêndio em vegetação nativa saltando de uma média de 10% nos últimos cinco anos para alarmantes 23,7% nos primeiros meses de 2025.

Nesse contexto de avanço da degradação, a discussão sobre a pavimentação da BR-319, que liga Manaus (AM) a Porto Velho (RO), continua sendo um ponto de intensa controvérsia e um dos principais entraves ambientais. A rodovia, em grande parte ainda não asfaltada, atravessa uma área de alta sensibilidade ecológica e socioambiental na Amazônia.

O governo federal tem sinalizado entraves e resistência à pavimentação completa da BR-319, devido às preocupações com o impacto ambiental. Órgãos como o IBAMA aguardam projetos executivos, Planos Básicos Ambientais (PBAs) e comprovações de cumprimento de condicionantes, documentos que, segundo relatos, ainda não foram protocolados de forma satisfatória para garantir a licença de instalação.

Marina Silva sob pressão de Senadores do Amazonas

A Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, é uma figura central nesse debate, frequentemente alvo de críticas por sua postura cautelosa em relação à BR-319. “É inegável que a emergência climática torna o combate ao desmatamento ainda mais desafiador. Um planeta mais quente e seco cria condições propícias para o uso criminoso do fogo como estratégia de devastação”, afirmou a ministra em recente declaração, referindo-se ao aumento das queimadas.

Sobre a BR-319, Marina Silva tem defendido a necessidade de um licenciamento rigoroso, que garanta a sustentabilidade do empreendimento e evite o que muitos ambientalistas chamam de “arco do desmatamento” na região. “Não podemos asfaltar uma rodovia sem as devidas salvaguardas ambientais e sociais. Isso seria abrir uma porta para a grilagem, a exploração ilegal e a devastação de uma das áreas mais preservadas da Amazônia”, pontuou a ministra, em resposta a questionamentos sobre os avanços do projeto. “Nossa prioridade é e será sempre a proteção da Amazônia. Estamos intensificando as operações de campo e buscando parcerias para coibir as ilegalidades que impulsionam essa destruição, inclusive as que podem ser geradas por infraestruturas sem planejamento adequado.”

Por outro lado, senadores amazonenses têm questionado abertamente a postura do Ministério do Meio Ambiente. O senador Omar Aziz (PSD-AM), por exemplo, tem sido um dos mais vocais defensores da pavimentação. “É inadmissível que a população do Amazonas continue isolada. A BR-319 não é uma questão ambiental, é uma questão de soberania, de logística e de dignidade para o nosso povo”, declarou o senador, frequentemente apontando a ministra como o principal entrave para a obra. “O Amazonas tem 97% da sua floresta preservada, mas 60% da nossa população vive na linha da pobreza. A BR-319 é fundamental para escoar nossa produção e integrar o estado.”

Outro crítico é o senador Plínio Valério (PSDB-AM), que já afirmou que “o Ministério do Meio Ambiente virou um ‘freio de mão’ para o desenvolvimento da Amazônia”. Valério tem cobrado celeridade no processo de licenciamento, argumentando que a falta de infraestrutura inviabiliza o progresso da região e dificulta o combate aos próprios ilícitos ambientais. “Não é a BR-319 que desmata, é a falta de presença do Estado. Com a rodovia, teremos mais fiscalização e desenvolvimento sustentável”, defendeu o senador.

Especialistas apontam que, além das questões climáticas, as “divergências internas no setor político” e o “fogo amigo” contra o Ministério do Meio Ambiente podem estar contribuindo para o impasse e para os números crescentes de desmatamento, ao dificultar ações coordenadas.

Modelos de inteligência artificial, como o PrevisIA do Imazon, alertam para o risco de 6,5 mil km² de desmatamento na Amazônia em 2025, sinalizando a urgência de intensificar as ações de prevenção a partir de maio, com a diminuição das chuvas. O ano de 2025 se configura como um período de grandes desafios para a Amazônia, exigindo uma resposta coordenada e enérgica para conter a escalada do desmatamento e da degradação florestal, e um consenso sobre o futuro de projetos como a BR-319.

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